DESAMOR DE PREFEITO” EVOLUIU PARA “CRUELDADE DE PREFEITO” (OU, QUEM SABE, “PERVERSIDADE DE PREFEITO”)


Josemar Santana

A expressão “DESAMOR DE PREFEITO” foi largamente utilizada pelo então candidato a prefeito, Carlos Brasileiro, na Campanha Eleitoral do ano 2000, quando obteve a sua primeira eleição, contra o então prefeito Cândido Augusto Martins, que buscava a reeleição para o seu 3º mandato, saindo derrotado.

A prática petista de espalhar uma mentira repetidas e incessantes vezes, até que ganhe aparência de verdade estava presente naquela expressão, tornando-se frase de efeito negativo contra o prefeito Cândido Augusto, porque era usada para incutir psicologicamente no eleitorado, a idéia de que o então prefeito não gostava, não tinha amor pela cidade.

“É preciso eleger prefeito, alguém que tenha amor pela cidade”, dizia o então candidato Carlos Brasileiro, acrescentando que estava na hora de resgatar “a autoestima da população e o orgulho de ser bonfinense”, enquanto apontava o que considerava descaso da administração pública municipal para resolver problemas tidos como pequenos e simples, a exemplo de buracos nas ruas da cidade, “matinho” e “capinzinho” crescendo nas calçadas de ruas e praças, entre outros.

A crítica era feita para dar a impressão que a falta de amor do então prefeito pela cidade estava evidente na demora em tapar um buraco de rua, ainda que as equipes de recuperação atuassem dois ou três dias depois do seu surgimento. A crítica tinha o objetivo de mostrar que ações pequenas e simples não eram feitas com rapidez pelo governo municipal, porque o então prefeito não tinha amor pela cidade.

“INCOMPETÊNCIA ADMINISTRATIVA” era também utilizada para criticar as filas que se formavam nas madrugadas, na porta da Secretaria Municipal de Saúde, que funcionava na época, em frente à Sociedade 25 de Janeiro e para onde as pessoas necessitadas se dirigiam em busca de uma senha para consultas ou exames médicos, numa época em que o Município integrava o SUS-Sistema Único de Saúde, ainda na fase da chamada “Atenção Parcial”, isto é, ainda estava sendo preparado para integrar o SUS, na chamada Atenção Plena.

Representava “CAOS ADMINISTRATIVO”, por exemplo, a demora da CERB-Cia. De Engenharia Rural da Bahia, órgão do Governo do Estado, responsável pela implantação e manutenção dos sistemas simplificados de abastecimento de água de comunidades rurais, porque, segundo dizia Carlos Brasileiro, a prefeitura não deveria esperar pela lentidão da CERB para recuperar esses serviços, porque são serviços de importância vital para as comunidades rurais. O mesmo “DESAMOR”, a mesma “INCOMPETÊNCIA” e o mesmo “CÁOS ADMINISTRATIVO” eram apontados pela falta ou demora de contratação de carros-pipas para abastecimento de comunidades rurais, desprovidas de sistemas de abastecimento.

O “DESAMOR DE PREFEITO”, a “INCOMPETÊNCIA” e o “CAOS ADMINISTRATIVO” eram vistos e apontados desde a simples presença do “matinho” que não era retirado das calçadas e ao longo dos meio-fios das ruas, passando pela crônica falta de carteiras escolares e se estendendo até a denunciada má conservação de prédios escolares, no lixo que se acumulava em vários pontos da cidade (agravado nos três últimos meses do ano 2000) e assim por diante.

Pois bem. São decorridos 10 (dez) anos e de lá até os dias atuais já tivemos 8 (oito) anos (dois governos) de Carlos Brasileiro e estamos quase no segundo ano do prefeito Paulo Machado (ambos do PT), vendo, assistindo, testemunhando diuturnamente a repetição de todas as ocorrências que eram apontadas como sendo resultado do “DESAMOR DE PREFEITO”, da “INCOMPETÊNCIA” e do “CAOS ADMINISTRATIVO” existentes na época.

Buracos continuaram presentes nas ruas da cidade, a partir de 2001 até os dias atuais, ressaltando-se o atual aspecto de abandono das ruas asfaltadas (parece que foram alvos de bombardeios aéreos, em tempo de guerra); os teimosos “matinhos” e “capinzinhos” nas calçadas e praças e ao longo dos meio-fios das ruas continuam presentes; as filas que ainda se formam nas madrugadas, na porta da Central de marcação de consultas e exames médicos continuaram e continuam vivas e crescentes, mesmo depois da passagem no início de 2001, do Município, para a Atenção Plena do SUS (Sistema Único de Saúde), para a Atenção Plena (os recursos se multiplicaram por sete vezes o da Atenção Básica, saindo de pouco mais de R$ 70 mil reais por mês para mais de R$ 500 mil ) deixada pronta pelo governo de Cândido, que concluiu o processo de habilitação em dezembro de 2000.

Os sistemas simplificados de abastecimento de água continuam sendo problemas insolúveis nas comunidades rurais; carros-pipas continuam escassos no socorro a comunidades rurais, exigindo que vereadores pratiquem favoritismo a comunidades que são ou poderão ser potenciais redutos eleitorais, pagando de seu próprio bolso, aquisição de água para essas comunidades, porque o governo municipal não é capaz de cumprir o seu dever institucional (segundo revelou recentemente o vereador Helson de Carvalho); obras que nem foram inauguradas estão reclamando recuperação, desfazendo-se pela má qualidade do material empregado, a exemplo da Praça do INSS, das pistas de “cooper” e ciclismo do Parque da Cidade (já apelidado de Parque dos Aborrecimentos); lixo continua sem recolhimento em certos pontos da cidade e ruas sem varrição nos muitos bairros da cidade.

O “Campinho da Visconde” parece que não existiu para a administração de Carlos Brasileiro e continua inexistindo para a administração atual de Paulo Machado, tal o abandono a que foi relegado, mesmo com a forte (e naturalmente falsa) propaganda que diz que o município está fazendo o “esporte cada vez mais forte”; o mesmo aconteceu com o Chafariz da Gambôa; a ausência de saneamento básico e as obras de prolongamento de revestimento e cobertura do canal da malária continuam no estágio em que deixou o governo de Cândido Augusto. Bairros inteiros continuam sem calçamento (Novo Horizonte que o diga). Mas estas últimas referências são obras que demandam muitos recursos e o “DESAMOR DE PREFEITO” referido por Carlos Brasileiro estava expresso na ausência de pronta intervenção de Cândido em pequenas ações.

Se em 2000, por conta do calor da campanha eleitoral, tudo que a administração municipal demorava de fazer, ainda que essa demora fosse de poucos dias, representava “DESAMOR DE PREFEITO”, o que se pode dizer da continuidade desses descasos (segundo dizia Carlos Brasileiro) durante os dez anos de repetição dos mesmos e insolúveis problemas?

Conclui-se, da repetição e da teimosia continuada desses descasos, que lhes dão crescimento e despertam o sentimento de impossibilidade de solução, que aquele “DESAMOR DE PREFEITO” continuou nos dois governos de Carlos Brasileiro e estão se agravando no atual governo de Paulo Machado, numa dimensão tão expressiva, que se transformou em “CRUELDADE DE PREFEITO”, ou, certamente, evoluiu para “PERVERSIDADE DE PREFEITO”, porque são problemas considerados de fácil solução pela população, como reconhecia Carlos Brasileiro, durante a campanha eleitoral de 2000 e que ele e nem Machado foram capazes de resolver.

Josemar Santana é jornalista e advogado
Blog do Meireles
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