Governo, feirantes e lojistas apreciam reforma da Praça Senna Gomes


Tomadas as providências de projeto destinado a reurbanizar e rehumanizar a Praça Senna Gomes, uma das mais capitais para o comércio característico da cidade, o Governo Municipal de Senhor do Bonfim, convocou e reuniu ontem (19), os principais protagonistas da feira que ocorre neste privilegiado espaço: ele próprio como administrador do interesse público, os lojistas e as diversas categorias de feirantes (barraqueiros e ambulantes de variados segmentos).

Adequação, higiene e conforto – A reunião ocorrida no Centro Cultural Ceciliano de Carvalho precisou de apenas duas horas – das 18h20 às 20h20 – para selar o desejo amplamente majoritário de reforma. O Prefeito iniciou situando o local urbano, histórico e nobre como já incômodo para o lojista, o barraqueiro, artesão, ambulantes e freqüentadores em geral. Disse que a Senna Gomes vem há anos se assoberbando em má distribuição dos espaços, falta de higiene, desconforto e degradação; que ela precisa ser praça e ser feira: não desfigurar a função tradicional de ter bancos, árvores, coreto, traçado social de praça, nem deixar de ter a atividade de comércio e de feira. E que a necessidade de higiene e conforto exigia reorganização. Finalizou agradecendo a presença maciça dos negociantes, dizendo-lhes do interesse do Governo em não desalojá-los e passou a palavra à arquiteta Lu Carozo, que recebeu toda essa orientação e agora abriria o projeto de reordenação, em todos os seus detalhes para apreciação e discussão com a platéia de mais de 100 pessoas.

A parte de cima da praça – Devidamente apresentada, a arquiteta deu os pormenores da Praça Senna Gomes, em mais de 10 plantas previamente afixadas nas paredes do Centro Cultural e em projeção de vídeo durante toda sua explanação. Dimensionou a praça: a parte de cima com1500 m2 e a parte de baixo com 2900 m2. Explicou que o novo traçado não seria mais com um corredor longitudinal no meio. As ruas seriam agora em diagonal, para fluir melhor. Mostrou que na parte de cima, a menor, ficaria a praça, com a grande maioria das árvores atuais conservadas e implantadas novas árvores (no mínimo 12 palmeiras) e outras apropriadas, além de plantas também descritas e mostradas em imagem. Por ser praça, essa parte teria 12 postes de iluminação (hoje só tem um disse ela), coreto, pisos adequados, sorveterias (duas) e serviços de sapataria, bares etc, além da tradicional barraca de sanfoneiros. Exibiu a divisão em boxes com diversas tamanhos, 4, 6, 7 m2, no padrão de cada tipo de negócio.

A parte de baixo da praça – A arquiteta cedeu a palavra e ouviu, sempre que alguém quis explicação. Falou, a seguir, da parte de baixo da praça. Sua destinação total para a feira, nos seus diversos ramos: queijo, confecções, e toda sorte de comercialização existente, enquadrando tudo em números. Quantos boxes para cada setor e os locais de ambulantes, artesões. Deixou bem claro que toda a feira seria coberta com lona tensionada em sua área total de aproximadamente 4500 m2. Explicou sobre a qualidade das lonas e do preço, que varia com sua durabilidade. Deu exemplo do uso desse material em feiras no Brasil e nos países em que ela andou ou morou. Falou da proteção, da comodidade. Foi questionada porque a entrada para os boxes obriga o dono a se abaixar. O Prefeito solucionou no mesmo instante, solicitou que ela fizesse a modificação e Lu Carozo acedeu.

Questionamentos da platéia – E a palavra foi franqueada a quem quisesse e houve várias intervenções. A grande maioria silenciou. Entre os que falaram, houve manifestações de receio de ficarem grupos fora da nova estrutura da feira, outros por acharem pequenos os boxes. A arquiteta respondeu que o tamanho dos boxes, no projeto, era para contemplar padrões e o maior número possível dos que estavam instalados na feira. Surgiu a preocupação dos artesãos e com ela a possibilidade de acomodá-los na praça situada ao fundo do Bradesco, dependendo, porém, de mais discussão. As laterais da praça também foram questionadas como espaço reivindicado pela população, por ambulantes e pelos lojistas.

O jornalista Sérgio Emmanuel pronunciou-se em defesa da manutenção da feira-livre que deu origem a Bonfim; levantou ser este aspecto de profundo cunho cultural; questionou a ausência dos que moram na Gruna, plantam, colhem e vendem seus produtos tradicionalmente; eles são grandes responsáveis pela feira de Senhor do Bonfim e não vi espaço na praça para eles. Sérgio que é bonfinense e veio de Salvador tinha ao lado figura de outro conterrâneo, Humberto Santiago (Bel), que o endossou, na defesa desses protagonistas anônimos, mas históricos, que vêm da Grota dando à feira o seu caráter cultural mais importante.

Quando será – A reunião chegou ao fim e a pergunta mais freqüente era de quando se iria começar a obra e quando ela terminaria. O prefeito respondia que era o que tinha dito ao microfone. Tinha uma parte dos recursos assegurada e tudo faria para concluir a reforma da praça ainda este ano. Sua luta agora seria levantar o restante dos recursos. O início dependeria só de fechar o projeto e submetê-lo a trâmites necessários junto à Caixa Econômica Federal, que ele esperava não demorar.

Feirantes foram ouvidos depois, na feira

Lourival Barbosa: “Eu sou artesão de couro, trabalho na [Praça] José Gonçalves e é aquela história: na planta muito bonita, mas ampara uns e desampara outros. É muito apertado o movimento aqui, ninguém consegue circular aqui dentro, até a gente mesmo. Depois esperamos que melhore, né? Que façam alguma coisa pela gente, porque é sofrido todo dia montar e desmontar... É chuva, é sol... É levar a mercadoria pra casa. É bom que façam uma área que a gente possa ficar seguro e protegido”.

Jorge José do Nascimento Silva – Presidente da Associação da Feira Livre de Senhor do Bonfim. “A reunião foi muito boa, o projeto muito bonito, mas tem pontos, como bancos na parte de cima que tira o espaço pra gente trabalhar. A área de cima devia ser feira também, porque a feira ta crescendo cada vez mais. Não deve ter praça. A maioria gostou do projeto, todo mundo gostou, mas deveria modificar esta parte de cima, porque sexta e sábado chega muita gente [ambulantes] de fora. Mas eu já falei com o vice-prefeito hoje (sexta, dia 20), pra ele falar com o prefeito Paulo Machado que ele veja o pessoal que trabalha na calçada do Correio que está sendo retirado. Tem que deixar todo mundo trabalhar nos espaços. O Professor (o prefeito) deve ver isso com bons olhos, tirar de trabalhar tem que primeiro arranjar outro lugar”.

Josemar Alves – “Tive na reunião ontem (sexta), trabalho na praça do Banco do Brasil, no ramo de bolsas. A idéia de fazer a praça é boa, só que se o pessoal da engenharia e arquitetura fizer box como em Petrolina, Juazeiro e Feira de Santana vai caber todo pessoal da praça. A idéia de praça n área de cima não vai funcionar não, quando o pessoal pensa em praça pensa na Praça Nova. Isso aqui vai ficar uma área isolada, até porque à noite não tem movimento e só é freqüentada de dia por causa da feira. A mudança é boa porque tem box e vai livrar a gente de levar mercadoria pra casa todo dia. Facilita pra todos, não é? Mas é bom reformar, é melhor com praça do que como está. Vai dar vida à cidade, não é?”

Marilúcia Alves da Silva – Eu tenho 28 anos aqui, no queijo, manteiga, rapadura, doce de leite e o projeto, d forma que vi é muito bom, uma maravilha. Devia começar amanhã, logo. Agora eu acho que, prá que sete metro nas barraca de bebida? E roupa pegou só quatro metros... No meu caso não, eu trabalho aqui com dois metros e vou pegar o dobro”.

Aguinaldo Gomes Cardoso – “Trabalho há 21 anos, sempre aqui na praça: é queijo, manteiga de garrafa, doce de leite... Eu gostei do projeto, estou de acordo. Vou sair desse ponto, mas vou pra pertinho, ta bom. Minha barraca tem um metro e setenta, eu vou pra uma maior. Vai ficar limpo, seguro, bem arrumado. Tô de acordo.

Júlia Lima Pereira – “Trabalho com queijo coalho, queijo orégano, mel, doce de banana, de goiaba, rapadura. Tenho 26 anos na feira-livre. Eu acho que essa praça vai ficar maravilhosa, vai valorizar a cidade, é uma cultura, a feira de Bonfim é uma tradição. São várias pessoas que trabalham aqui e precisa mesmo de reforma e organização. Vai ter mudança, vou sair, mas é diferente de uns 16 anos atrás, que nós do queijo veio lá de cima prá cá e perdemos muito comércio. Agora eu dessa parte de cima e vou pra baixo, é perto. Tomara que eu deixe de ficar levando coisa pra casa. Dou é parabéns, box é meu sonho”.

Joselito Alves Pereira – Adorei o projeto, a entrevista da arquiteta, as palavras de Paulo Machado. E aí, se for aprovado o que disseram lá, que Deus ajude, não tem como dar errado não. Eu trabalho com bebida há oito anos, dois metro e meio por três. Ela falou lá que vai ser sete metro quadrado. Eu gostei e 100% da população gostou, vou dizer 99%, que vi uns reclamar”.

O projeto é único e os caracteres da praça e da feira foram mantidos (Disse a arquiteta)

Lucinei Carozo, internacionalmente conhecida como Lu Carozo, é baiana de Jequié, diplomada pela Escola de Arquitetura da Universidade Federal da Bahia. Seu nome tem vasto currículo profissional em mais de 20 folhas de citação em construções e prêmios, quer como arquiteta ou professora universitária. Tem vínculo com instituições globalmente famosas, por ter sido consultora de empresas, diretora de entidades de arquitetura, autora de importantes projetos ou de artigos em revistas especializadas em vários países. Dispensa comentários. Duas páginas não dariam para resumir sua brilhante folha só de atividades destacadas. Chegou a ter projeto laureado pela ONU - Organização das Nações Unidas, em 2002.

Ascom – Qual o seu olhar de importância para ao projeto desta praça em Senhor do Bonfim?

Lu Carozo – A princípio, toda obra e projeto são importantes. Este projeto tem muito significado para Senhor do Bonfim, porque ele procura requalificar um espaço urbano que está muito degradado. Enquanto procura de requalificação urbana, de qualidade de vida e de melhoria para a comunidade o projeto está principalmente buscando dar dignidade a uma cidade. E aí está a importância. É um processo nobre e que precisa ser bem mais valorizado, para realizar e criar sonhos. Para fazer com que estes sonhos sejam realizados. “Isso nos dá estímulo e é de fato gratificante”.

Ascom – Você conhece algum projeto semelhante em outra cidade do interior da Bahia?

Lu Carozo – Desconheço projeto como este em qualquer outra cidade do interior da Bahia. Sei que hoje, em Salvador, vai ter uma reestruturação da Feira de São Joaquim. A proximidade é mínima, é a de ser outra feira. O que sei que é um processo muito ruim estar tirando a característica da feira pública e de suas tradições. E Bonfim, guardando suas características, vem a ser o entreposto do sertão que vive o comércio e valoriza o seu povo num projeto comercial responsável como este.
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