Feirense apresenta fisioterapeuta como médico em jogos do Campeonato Baiano em Senhor do Bonfim



Walter Palmeira Costa, aos 52 anos, é o novo personagem do futebol baiano. Mora em Senhor do Bonfim e ficou no banco de reservas em todos os jogos do Feirense na cidade no Campeonato Baiano 2012. Só entra em campo quando a bola para. Na súmula, está como médico, mas é fisioterapeuta.
“A minha especialidade (médica) é fisiatria. Sou fisioterapeuta também… Sou fisioterapeuta, médico, viu?”, afirmou Walter Palmeira Costa por telefone, na quarta-feira.
Sobre a dupla rotina de trabalho, comentou: “Meus pacientes são pacientes de terceira idade… E muitos destes pacientes tenho que atender em residência. Inclusive, estou atendendo uma paciente minha aqui em residência”.
- De medicina ou fisioterapia?, pergunto. “Tudo”, responde. – Os dois?, insisto. “É”, garante, tranquilo. – E nos jogos?, questiono. “Normalmente, durante o jogo, são as pancadas, né? São os traumas que acontecem, a gente atende, e também, às vezes, por cansaço ou fadiga muscular”, comenta. Walter Palmeira Costa assina a súmula como médico e usa o CRM 6502. Mas o Conselho Regional de Medicina da Bahia (Cremeb) garante que o CRM 6502 é da médica Regina Tosoratti Penteado. “De ordem, informamos a V. Sa. que não consta nos registros deste Conselho, nenhum registro em nome de Walter Palmeira Costa”, reforça o Cremeb, por e-mail.
Em consulta no site do Conselho Federal de Medicina (CFM), o CRM 6502 está relacionado a 18 pessoas. Em 11 casos, o registro segue ativo; em quatro foi transferido; em dois, cancelado; e um é de falecido. No CFM, a consulta para o nome Walter Palmeira Costa diz: “Não existe nenhum resultado para essa busca”.
O exercício ilegal da Medicina tem pena de até dois anos. Já falsidade ideológica chega a três anos de reclusão. Na esfera esportiva, a ausência de médico no banco de reservas pode resultar até em eliminação do time do campeonato.
Dobradinha Pela 8ª rodada, dia 12 de fevereiro, na partida Feirense 1×0 Itabuna, no estádio Pedro Amorim, Walter Palmeira Costa, inclusive, confirma ter trabalho para os dois clubes: “Exatamente”.
- O pessoal faz o contato para você ficar nos dois times? “Na hora do jogo, a gente combina, vêm os companheiros e a gente vê. O que for melhor para o jogo, a gente faz”.
A afirmativa contradiz até a súmula oficial da partida (trechos no boxe preto, ao lado), publicada no site da Federação Bahiana de Futebol (FBF). Na ficha técnica entregue pelo Feirense está o médico Walter Palmeira Costa, CRM 6502. Já a ficha do Itabuna escreve como médico Valter Correia Costa, também CRM 6502.
Fisioterapeuta Na quinta, questionado por que trabalhava como médico, pois o Cremeb não o reconhecia, Walter mudou o discurso. “Veja bem… Eu tô com um problema nesse registro aí. Eu sou da Paraíba. Estou como fisioterapeuta aqui”.
- Seu número de médico não está valendo? “Não, não”, admite. O Conselho Regional de Fisioterapia e Terapia Ocupacional da 7ª Região (Crefito-7) confirma a inscrição sob o número 6502-F. – Qual o seu número de médico na Paraíba? Qual CRM? “Sempre foi 6502”, afirma. – Tanto médico como fisioterapeuta?, insisto. “De médico e fisioterapeuta, isso…” – Mas você é médico; está só com problema no registro, né?, tento esclarecer. “É. Estou, mas estou resolvendo isso aí”, finaliza.


Feirense justifica-se Por dois dias, o presidente do Feirense, Dilson Carneiro, evitou falar sobre o caso Walter Palmeira Costa. O dirigente pediu para o assunto ser tratado com o gerente de futebol, Ítalo Bittencourt, que, ontem, deu a versão do clube.
“Na verdade, ele é doutor em fisioterapia. Mas não é o médico…”, comentou, contrariando a versão do próprio Walter Palmeira Costa. “É porque, na verdade, a equipe médica é de Doutor Marcos… O Walter faz o primeiro atendimento. Quem entra em campo é ele. Doutor Marcos não entra em campo; fica no banco”, diz Bittencourt, indicando “Marcos Nobre” como “nosso médico”.
E por que Walter Palmeira Costa aparece na súmula como médico? “A gente precisa colocar na súmula, porque senão ele não vai poder ficar no banco. Ele é sócio de Doutor Marcos na clínica (Senhor do Bonfim)”.
Depois, questionado sobre qual seria o CRM, afinal o registro 6502, de acordo com o Cremeb, é de Regina Tosoratti Penteado, afirmou: “É de doutor Marcos, mas não é Cremeb. Ele formou em São Paulo ou Rio, um negócio desse. Marcos Nobre. Depois, você pode dar uma conferida no CRM.
Ele só atende o atleta se for uma coisa mais grave; o atleta sai de campo”. De acordo com o Conselho Federal de Medicina, não há qualquer Marcos Rocha com o CRM 6502. Bittencourt ainda revelou: “É a mesma equipe que prestava atendimento pro Ipitanga no ano passado”. Walter Palmeira Costa confirmou que, ano passado, também trabalhou por Ipitanga. Marcos Nobre não foi localizado.
‘Fico triste’, diz Xavier O Itabuna usou o serviço do fisioterapeuta Walter Palmeira Costa na partida contra o Feirense, em Senhor do Bonfim. E o presidente do clube, Ricardo Xavier, garante: “Se o médico que foi oferecido pra gente, contra o Feirense, não é médico, a gente é… Parte do pressuposto que confiamos… Se acontecer isso, com certeza estamos surpresos… Até porque a gente preza, mesmo na dificuldade, muito pela questão da legalidade”, garante.

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Na ficha técnica que é parte da súmula do jogo, o Itabuna aponta como médico Valter Correia Costa – CRM 6502. “Eu fico triste também, porque, se acontecer em relação ao jogo do Itabuna, a gente tá confiando na palavra e no acerto feito entre presidentes… Não há, de maneira alguma, qualquer má fé no Itabuna”, continua o dirigente.
Xavier até explica como funciona o acordo. “O que nós fazemos, por exemplo, é um acordo apalavrado entre os clubes. O time, o Feirense, vem jogar em Itabuna, então a gente oferece nossa estrutura de médico. Tem o nosso e arruma outro, porque facilita pros clubes. Quando a gente viaja, então tem esse serviço de troca.
Esse é o acordo e tem sido assim a situação de todos os clubes. Um clube do interior para viajar com médico e tudo é muito difícil… Nós, do Itabuna, estamos confiando na lisura e honestidade dos clubes”, sustenta. “Aqui, por exemplo, temos dois médicos. Então um fica com a gente e o outro com o visitante. Temos Doutor Edson Dantas e Doutor Antônio Mangabeira”, encerra Ricardo Xavier, certo que o acordo não daria problemas.

Marcelo Sant’Ana
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