ÁGUA DO SÃO FRANCISCO PARA BONFIM E REGIÃO, É POSSÍVEL?


De tempos em tempos a seca no interior do Nordeste volta a ser debatida. Como não é mais novidade o assunto já não chama tanta atenção, sendo mais interessante para alguns veículos de comunicação divulgar a ocorrência de estiagem no Rio Grande do Sul, que recentemente ficou “algumas semanas” sem chover, o que foi manchete em parte da mídia, principalmente do sul e do sudeste. No entanto em estados como a Bahia, o maior em extensão da região nordestina e também o que tem a maior população e o maior número de municípios a seca voltou este ano como há quase uma década não víamos. Segundo alguns registros, os verões dos últimos dez anos foram, em termos de pluviosidade, razoáveis, alguns bem excepcionais, como o de 2004, quando choveu em alguns lugares do sertão mais de 800 mm em menos de 40 dias, contra uma média anual de pouco mais de 600 mm.
Diante desse quadro diversas são as noticias que dezenas de municípios na Bahia, na verdade quase duas centenas, já declararam estado de emergência ou mesmo de calamidade, em função da forte estiagem e da falta de perspectivas, já que o período tradicional de chuvas já passou. Neste contexto volta-se a questionar sobre antigos temas outrora debatidos como a captação da água d o rio São Francisco para abastecer municípios baianos que estejam nas suas proximidades. Essa foi uma temática amplamente debatida, ao menos no ambiente local e microrregional, no início dos anos 1990, quando se viveu outro período de seca, mas que fora sufocada e dispersada, tanto pela falta de força do movimento, quanto pelo retorno das chuvas que acalentaram o sonho de ter a garantia do abastecimento de água por um rio federal enorme relativamente próximo de municípios como Jaguarari, Senhor do Bonfim, Campo Formoso, Antonio Gonçalves e Andorinha, só pra ficar nesses cinco, que juntos representam pouco mais de 200 mil habitantes.
Trata-se, portanto, da necessidade de se assegurar segurança hídrica para uma região, que de tempos em tempos registra grandes períodos de estiagem que comprometem a qualidade de vida da população, e toda a sua economia, trazendo prejuízos generalizados e afastando investimentos de todo tipo. Entretanto, quando analisamos outros cinco municípios pernambucanos, como Santa Cruz, Santa Filomena, Ouricuri, Trindade e Araripina, estes contam desde há algum tempo com a adutora do oeste
construída pelo governo daquele estado, e cuja distância do rio é bem superior a dos municípios baianos citados. Pra se ter uma ideia Araripina com cerca de 80 mil habitantes fica a mais de 150 km de distância e bebe água do rio, enquanto que Senhor do Bonfim com os mesmos 80 mil habitantes fica a menos de 100 km do “velho Chico” ou mesmo a pouco mais de 60 km de Pilar, no município de Jaguarari, aonde já existe uma adutora, e, no entanto este e os demais municípios baianos citados dependem de
reservatórios suscetíveis a secas, o que compromete o abastecimento de água. A cidade pernambucana fica a mais de 600 m acima do nível do mar, a mesma altitude de da sede de Campo Formoso, enquanto que Bonfim fica a pouco mais de 500m, o que talvez facilite a operacionalização.
A adutora que serve aos municípios pernambucanos capta menos de 1 m3 por segundo, o suficiente para abastecer com folga toda aquela região. Pra se ter uma ideia o rio passa entre Juazeiro e Petrolina com uma vazão média de mais de 1.500 m3 por segundo. Atualmente com as cheias em Minas, fato esse que pode ter justificado a atual seca no Nordeste, a vazão é superior a 2.500 m3 por segundo.
A transposição do Rio que fará captação para a outra parte de Pernambuco, Ceará, Paraíba e Rio Grande do Norte, nos eixos leste e norte, terá capacidade de captar quase 130 m3 por segundo, um gigantesco canal, numa obra bilionária, que trouxe muita polêmica na sua execução, mas que com certeza terá grande serventia para aquelas regiões. No entanto fica a pergunta, será que não é possível a construção pelo governo da Bahia, de uma adutora de menos de 100 km e de poucos milhões de reais para garantir o abastecimento de água para mais de 200 mil habitantes e uma economia de razoável importância?
Como alento fica a expectativa com a própria Transposição, que talvez, num futuro (sabe-se Deus quando), poderá executar o eixo sul voltado para a Bahia, quem sabe perenizando rios como o Vaza Barris e Itapicuru-Açu e garantindo oferta d´água para os municípios citados. É bom lembrar que este ano teremos eleições municipais e talvez seja interessante ver na pauta dos debates novamente essa temática.

Márcio Ferreira Araújo Silva (Bonfinense, Economista - Analista da Codevasf/Professor da Facape)
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