AS RUAS E PRAÇAS BONFINENSES FICARAM MAIS POBRES


Se eu disser a você que Senhor do Bonfim se empobreceu nesta sexta-feira, dia sete de junho, pelo trágico desaparecimento de Manoel Ferreira da Silva, você certamente me perguntará por que razão. Mas talvez você se dispense de indagar se eu lhe disser, que estou me referindo ao “Pega Jegue”, símbolo importante da contemporaneidade bonfinense.

O Cuidado da cidade tinha em seu olhar perscrutador um lugar especial, e nisto ele foi exemplo para gerações: com a mesma desenvoltura com a qual ele corria atrás dos animais que transitavam nas ruas da cidade, Manoel Ferreira da Silva abordava crianças e jovens que teimavam em destruir jardins e equipamentos públicos. A Praça Nova do Congresso que o diga.

Ator, dando um toque especial de humor nos filmes de Miguel Araujo, me confessara recentemente que em breve estrelaria em novo filme, e o sucesso seria garantido. Mas sucesso mesmo ele fazia era quando vestia um uniforme com cara de soldado do exército (ou da polícia) e saia, sem laço, mas com coragem, para recolher animais desgarrados, vezeiros em disputar com carros e pedestres os espaços públicos citadinos. Nisso ele era mestre, e mestre para ninguém botar defeito. Tanto que se convencionou que, diante de uma queixa quanto à referida invasão, a fala era unânime: “Pega Jegue precisa entrar em campo”. Sua eficiência e simplicidade, seu papel emblemático, levou o novo governo municipal a mantê-lo nos seus quadros, embora o seu passado em doze anos tivesse sido de alinhamento profissional com governos anteriores.
Empurrado não sei por quais razões, o dedicado servidor muncipal fixou recentemente residência no interior do Distrito de Igara, e foi surpreendido por um carro inconsciente que lhe ceifou a vida, na noite de uma sexta-feira fria de junho, no povoado de Queimadinha, levando consternação a toda a municipalidade.

Eu, se fora prefeito, decretaria luto por três dias e mandaria hastear bandeira a meio-pau: Manoel Ferreira da Silva, que assumiu sem reclamar, o epíteto de “Pega Jegue”, fez mais pelo município que muitas figuras carcomidas que nada fizeram ou têm feito por este chão.

Jotacê, Meu rei, grande boca do inferno, toda a Senhor do Bonfim aguarda de sua lavra, um novo e significativo cordel.

Paulo Machado, em uma manhã friorenta de 9 de junho de 2013, “ad perpetuam rei memoriam”.
(Foto Ricardo Aquino)
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