DETIDO EM JUAZEIRO CARLOS DESCREVE COMO FOI O SÃO JOÃO NAQUELA UNIDADE DE DETENÇÃO

“Como foi o nosso São João”

Vejamos: foi a festa comemorada no dia 21/06/2013, sexta-feira, no raio b, no período da manhã – foram poucos momentos: não deu pra, realmente, nos divertirmos, embora houveram momentos divertidos.

Esperávamos que seriamos agraciados com a presença das mulheres, que viriam do raio feminino – mas isto não aconteceu: das outras vezes em anos anteriores, elas participaram. Seria legal, porque, entre os solteiros, gera um ótimo intercâmbio, o que pode favorecer, com o devido respeita uma aproximação entre “interessados” e ainda, a possibilidade de presos encontrarem a sua “alma gêmea”, entre as presas, da ala feminina, e vice versa, digo, quanto aos presos, no raio A e B, propiciando, de forma graciosa, a possibilidade de recomeçarem suas vidas, uma vez que a carência afetiva, no sistema de segregação, de prisão civil, restritiva de liberdade é bastante fomentadora e geradora de carência afetiva, o que acaba Por tornar os presos em pessoas “sensíveis”, pessoas predispostas, carentes emocionalmente, e recomeçar suas vidas – este é um importante fator social que pode muito contribuir para a ressocialização: mas isto não aconteceu – elas não vieram...

Esperávamos que, também, a exemplo de outros eventos de festas juninas, realizados no CPJ, dos anos passados, viessem jovens solteiras convidadas pelo corpo técnico e do administrativo do CPJ, e até mesmo pelo corpo docente da escola anexa ao CPJ; isto ocorreu em eventos anteriores – também, aqui, seria uma oportunidade de possibilitar novos relacionamentos, mantendo o devido respeito, entre os presos e as jovens, corajosas, que pudessem vislumbrar, também, uma possibilidade re reformas e amorosos afetivos.

Mas isto não aconteceu – infelizmente estas esperanças foram frustradas, e, restou, a saudade dos eventos anteriores.

Mas nem tudo está fadado ao fracasso – apesar do pouco tempo, as professoras e o corpo técnico do CPJ – psicóloga, terapeuta ocupacional, assistente social – num rompante de generosidade e graça, já à vontade, no “raio”, resolveram se juntar aos presos numa roda de dança e, com graciosidade, leveza e espontaneidade, alegrou a “festa dos presos”, improvisando coreografias (próprias de festas juninas) – este gesto foi elogiado entre os internos, que o entenderam como uma aproximação entre administração técnica e os presos: ouvi comentários de que isto nunca havia ocorrido!

O momento foi relativamente alegre – lamentamos que o tempo foi muito escasso (1h aproximadamente): se pudermos descrevê-lo, poderíamos, aproximar o oloprido, mais ou menos dentro do seguinte quadro: nos primeiros 10 minutos, dois músicos, numa área debaixo das escadas, com um teclado e um microfone, conseguiram reunir os presos em torno da música. Os próximos 20 minutos (enquanto a música é tocada) foi o tempo usado para que, em fila, os internos pegassem o seu lanche, simples, mas generoso – “comida típica” de festa junina. Mas 10 minutos para um “esquenta”, enquanto, se degusta o lanche e, finalmente, os próximos 20 minutos de alegria completa (ou quase completa), em que como já disse, o corpo técnico e administrativo se juntou em roda de dança com os presos, tudo co o devido respeito e moderada alegria.

Alguns agentes, à “vontade e seguros”, no raio, tiraram fotos; o coordenador de segurança, juntamente co o pedagogo, profissionais “humanos”, sérios e queridos pelos internos e liderança do raio, circulavam normalmente pelo raio, conversando com presos e providenciando para que a festa fosse alegre.

Enfim, depois de encerrado o pouco tempo da festa, restou retornarmos à rotina normal, permanecendo o “saudosismo” das festas juninas que, todos aqui, internos, alguns, um dia, na sociedade, prestigiaram!

Apesar de modesta, não muito a contento, não poderia deixar de agradecer a terapeuta ocupacional e ao Luciano (este, interno e muito amigo meu) que num gesto de bondade e desprendimento, dentro de suas possibilidades e competências nos propiciaram este, curto, mas alegre, momento de lazer!

E que venha a nossa liberdade – liberdade majestosa, justa e propícia à vida daqueles que ainda estão vivos!

Sigamos, sempre, pelo caminho da verdade e da justiça!!!

Juazeiro – BA 22/06/2013

Carlos dos Santos Silva, interno do Raio B do CPJ
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