SANTO DE CASA FAZ MILAGRE, SIM, OU: “YES, NÓS TEMOS UM MESTRE!”


Lembro-me bem, era então Secretário Municipal da Educação de Senhor do Bonfim, quando um professor da Rede solicitou autorização para cursar um Mestrado em Salvador. Não só autorizamos o pedido, como mantivemos os salários e as vantagens daquele jovem que alimentava o sonho de bem se qualificar para melhor desempenhar as suas funções nas escolas de nossa terra. Apenas uma dúvida me assaltava: “fará ele como os mestres e doutores que ao receberem os seus diplomas voltam as costas às suas origens e ao seu cotidiano e buscam espaços em capitais e grandes centros universitários?” A sinceridade e o nível de enraizamento do professor municipal me garantiam que estávamos diante de alguém que diria “não” à tentação de buscar “o ouro das Américas”.

Minha intuição não me trairia: ingressando no Programa de Mestrado em Crítica Cultural da Universidade do Estado da Bahia (UNEB), o professor da rede de ensino municipal de Senhor do Bonfim, André de Jesus Neves, defenderia a sua dissertação de mestrado, com o título “Processos de construção da identidade autoral nas comunidades virtuais e blogs literários” em agosto de 2011. Após o curso, em que se tornou mestre, trabalhando temas candentes da modernidade ou, quiçá, da pós-modernidade, Professor André retornou ao seu regaço, assumiu humilde e com mais competência a construção da educação a serviço dos filhos do povo, sem se deixar seduzir pelo hábito nada justo de buscar novas plagas e roteiros profissionais após os cursos de pós-graduação.

Em 2014, movido pela consciência de que precisava socializar, devolver à sociedade os conhecimentos destruídos, construídos e reconstruídos, o jovem mestre nos brinda com um trabalho de alto nível acadêmico, e em linguagem aberta, não hermética: “Cibercultura e Literatura Identidade e Autoria em Produções Culturais Participatórias e na literatura de Fã (fanfiction)”.

As 202 páginas publicadas pela Paco Editorial, que possui um Conselho Editorial invejável, formado por 13 doutores, são de uma atualidade considerável, abordando temas contemporâneos que estão na agenda do homem do século XXI. Dividido em três partes, o agradável e belo livro discute inicialmente temas apaixonantes como a Internet, o Ciberespaço, a Blogosfera, o Ciberespaço como lugar de voz das camadas periféricas, as Comunidades Virtuais, as Redes Sociais e a Formação de Coletivos Inteligentes, a voz e a dispersão do autor no Ciberespaço; na segunda parte da publicação trata-se da cultura e literatura de Fã, da literatura marginal na internet, a fanfiction e o Ciberespaço; por fim, em sua terceira parte, o atraente livro aborda a Ciberitinerância e as Produções Artísticas em meio virtual.

O fato de um Mestre ensinar no ensino fundamental da Rede Municipal de Ensino nos convida a discutir a qualidade da educação e a desmontar o discurso de que quanto mais qualificado, mais o professor deve se afastar das bases e se elitizar. O ideal seria que os nossos sofridos e atarefados professores e professoras municipais pudessem ser favorecidos e incentivados na verticalização de seus estudos para retornarem às nossas escolas portando saberes e estratégias capazes de confirmar a qualidade de nossa educação. Tornar comum o que já é hábito em países desenvolvidos, a exemplo do Canadá, em que as escolas públicas têm largamente em seus quadros, quer na cidade como no campo, mestres e doutores à saciedade.

A experiência de vida e de formação do Professor e Mestre da Rede Municipal de Ensino de Senhor do Bonfim, André de Jesus Neves, nos convida a tornar esta exceção algo cotidiano entre nós: vamos incentivar e criar condições para que a Rede forme novos mestres e doutores, que agreguem mais competência à competência já existente. Quem sabe a Associação dos Docentes pode abrir caminho a uma luta em favor dessas conquistas que têm sido raras em nossos municípios?

Resta saber se estamos bebendo na fonte dos saberes do Mestre André, e de que forma o temos feito. Se com ele ingressamos no fantástico mundo do Ciberespaço, construindo as identidades contemporâneas da realidade virtual, que ainda é um mundo desconhecido em meio ao nosso povo, mesmo em meio à nossa juventude. Uma aventura fantástica e sem retorno, sobre a qual ele fala na dedicatória que apôs ao seu livro, ofertado ao autor desta crônica: “Como se reinventássemos rizomas nos labirintos do ciberespaço para se pensar as consequências da modernidade”.

Professor André de Jesus Neves, a educação municipal de Senhor do Bonfim se orgulha de você! AVE MESTRE!

Paulo Machado
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