Neste sábado, quando nos dirigirmos ao espaço, na feira, onde vendem as suas frutas e legumes os agricultores e as agricultoras das serras bonfinenses, das grotas e barrocas, quer da Barroca de Cima, quer da Barroca de Baixo, sentiremos a falta daquela mulher que se destacava pelo brilho do olhar e pela efusão dos gestos e palavras. Em frente ao penúltimo balcão, estarão ausentes os valores reconhecidamente dela, a palavra fácil e os braços abertos à espera de vizinhos e de amigos da cidade.
Ir à Barroca de Cima, e não fazer de tudo para vê-la em sua casa acolhedora, era mesmo que ir a Roma e não ver o Papa. Valia à pena subir e descer ladeiras, aproximar-se da Taboa, chegar a um altiplano onde equipes de futebol do Torneio das Serras transformavam em campo de futebol um dos poucos espaços planos da região, driblar algumas árvores e sentar-se na varanda do santuário onde ela residia, emoldurada pelo verde e pelas montanhas.
Valdira não falava de coisas vazias, seu discurso era sempre voltado para a organização do povo, para a luta popular, para a construção da sede da associação, para a melhoria das estradas, para encontrar um acesso direto da Barroca à cidade de Senhor do Bonfim, sem ter de fazer a enorme volta pelo Carrapichel. Mulher guerreira, mãos calejadas, uma líder nata, natural, como a sua amada Barroca de Cima.
Este seu compromisso com uma vida mais digna e mais justa no campo será sempre, sem dúvida, semente de novas conquistas e convite permanente à marcha dos povos do campo aos direitos e benefícios que lhes são negados ou chegam em conta-gotas.
Senhor do Bonfim, as Serras e as Grotas bonfinenses, as Barrocas endireitadas pelo nosso povo agricultor e altaneiro, ouvirão por muito tempo, o eco das vozes daquela que foi uma guerreira, uma líder de nossa gente: a nossa extraordinária e eterna Valdira da Barroca do Faleiro! Descansa em paz, mulher irrequieta e incansável, no Banquete que o Rei preparou para ti!
Paulo Machado
Senhor do Bonfim, Bahia, 29 de outubro de 2015.