HOMENAGEM AO PROFESSOR PAULO BATISTA MACHADO

Nesta noite quero falar de alguém de uma inteligência notória, de saberes plurais, um homem cheio de títulos, dada a sua busca pelo conhecimento, contudo, não foi a sua titulação que o fez tão notório e imensamente amado e admirado por todos, mas o seu senso de cuidado, a importância que conferiu ao seu semelhante enquanto esteve nesse plano de vida material.

Este homem seguiu à risca a maiêutica de Sócrates, pois na sua amabilidade, paciência e boa vontade para com o outro conseguiu tirar muita gente do martírio da escrita de artigos, monografias, dissertações, teses e tantos outros textos exigidos na academia. A maiêutica, isto é, o parto das ideias, era uma de suas doces habilidades. Com cuidado, respeito ao ritmo de escrita e de compreensão textual, amparando, auxiliando e encorajando, esse admirável e benevolente homem foi promovendo sujeitos de um nível de conhecimento a outro. Ele era o que se pode chamar, de fato, de um parteiro de ideias.

Embora estivesse nesse patamar de saber, este ser de altíssima deferência não conseguia deixar de enxergar os seus alunos, os seus concidadãos mais simples com um olhar de acolhimento, com envolvimento e amabilidade. Tantos diziam: Quando conversei com Professor Paulo, ele me ajudou a pensar claramente o meu problema de pesquisa e encaminhou-me no texto como ninguém nunca fizera antes. Ele era esse exímio costureiro do texto, pois conhecia como ninguém a arte de costurar ideias, a arte de validar argumentos e retomá-los ao longo da tecitura dos inúmeros textos que escrevia e que ajudava a tanta gente a escrever.

Mestre do conhecimento, mas, acima de tudo, mestre da amabilidade, da palavra branda, da gentileza; aquele para quem ser feliz era mais importante do que ter razão. Como eu admirava o seu dom de desconsiderar a ofensa, de aplaudir e afagar quem lhe ofendia. Por vezes, cheguei a chatear-me com tamanho desprendimento, pois ainda não alcancei a sua grandeza de alma.

Falar de Paulo Machado é lembrar dos conceitos de amorosidade e de dialogicidade, tão apregoados por Paulo Freire, pois segundo esse autor:

“[...] educação é um ato de amor”, sentimento em que homens e mulheres vêem-se como seres inacabados e, portanto, receptivos para aprender, sendo que “não há diálogo [...] se não há um profundo amor ao mundo e aos homens. Não é possível a pronúncia do mundo, que é um ato de criação e recriação, se não há amor que o funda [...] Sendo fundamento do diálogo, o amor é, também, diálogo” (FREIRE, 1987, p. 79-80).

No entanto, não se pode pensar em amorosidade desintegrada do conceito de dialogicidade, pois, para Freire:

“O diálogo é este encontro dos homens, imediatizados pelo mundo, para pronunciá-lo, não se esgotando, portanto, na relação eu-tu. Esta é a razão por que não é possível o diálogo entre os que querem a pronúncia do mundo e os que não querem; entre os que negam aos demais o direito de dizer a palavra e os que se acham negados deste direito” (Freire, 2005, p. 91).

Muitos a esta altura devem estar se perguntando: Mas, o que esses dois conceitos de Paulo Freire têm a ver com a memória de Paulo Machado? E eu, ousadamente, vos digo, tudo!

Paulo Machado era um homem que enxergou a Educação na sua jornada terrena como este ato de amorosidade para qual o diálogo é algo indispensável. Apesar de toda a sua sabedoria, era um homem aberto ao diálogo e de sensível escuta à razão, ao argumento e ou à necessidade do seu semelhante.

Lembro-me do grandioso zelo que tinha para com a nossa classe docente, fazendo questão de ir pessoalmente às reuniões, ouvindo as reivindicações, acolhendo duras críticas com a complacência própria dos pacifistas, dos democratas dos embaixadores da paz e da concórdia. Quantos foram atendidos, o clamor de muitos foi saciado na gestão, nas andanças, nas travessias de vida deste homem. Feliz daquele que teve sua causa posta em suas mãos, já que Homem de Boa-Vontade era seu verdadeiro nome.

Quando procuramos o significado do nome Paulo, ficamos sabendo que o mesmo significa “pequeno ou de baixa estatura” e, assim era Paulo Machado, um homem que se fazia pequeno, pois aos que se fazem pequenos cabe uma maior parcela do dom de amar.

Somente uma alma muito elevada, ante a tantos conhecimentos e titulações se preocuparia com a ação pedagógica de professoras e professores leigos. Sua Tese de Doutorado é uma das mais acessadas. Esse homem impactou a todos quando dizia que ter professores com formação acadêmica era algo louvável, mas não achava louvável esquecermo-nos de que enquanto não havia professores com formação acadêmica foram os docentes leigos que conduziram as muitas gerações rumo ao conhecimento das letras, da contagem e de uma série de saberes úteis à vida.

A simplicidade dos frutos da terra, o famoso e necessário passeio pela Feira Livre para longas e cálidas conversas com os feirantes, a alegria de cantar e de compor as músicas da terra Bonfim, a necessidade de sentir e tocar o povo nas suas muitas andanças, o conhecimento desde o homem ou a mulher mais simples e reescrita de sua história no contexto bonfinense, e tantas outras atitudes e atividade que envolvem apreço e querer bem lembram esse homem de boa fé. Na feira livre muitos espaços se esvaziam; na Universidade, uma voz se cala; nas festas, um folião por excelência se exime, nas dores do povo, uma mão se encolheu... Ele não está mais aqui!

Chegando neste ponto em que tento escrever memórias e prestar uma singela homenagem, noto o quanto fui pretensioso, pois pareceu-me muito fácil de início falar de Paulo Machado, mas, agora, noto que por mais que eu tente discorrer, sua história de vida é muito rica e complexa para que se resuma em poucas e limitadas palavras. Sendo assim, tentando resumir um pouquinho da essência de Paulo Machado, enquanto escrevia este texto me veio a mente a canção “Amar é isso”, de Mara Maravilha, quando esta nos diz:

Amar é sentir o prazer de cantar nosso hino
Quando o mundo reserva pra gente uma competição
É saber aprender nas palavras que vêm de um menino
Que na sua inocência e pureza sempre tem uma lição
Amar é sentir a leveza das folhas ao vento
É dizer sempre sim, quando tudo responde que não
Como a tela se rende ao pincel, se avida te der um papel
Faça com que ele tenha doçura do mel!

É nesse amor que diz sim em meio às muitas negativas, é nessa lição e pureza em que as coisas simples e o sorriso de criança imperam e dão o tom que todos nós nos lembraremos de você, meu querido e manso professor, pois o papel que a vida te deu tu fizeste com que dele se obtivesse a doçura do mel!!!
Saudades eternas de tanta amabilidade não é favor, é obrigação!

por Professor Edeil Reis
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